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Verdadeira mudança

  • Foto do escritor: Rodrigo Bartz
    Rodrigo Bartz
  • 5 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Rodrigo Bartz


Parece tudo surreal. Ainda lembro-me de quando dizia que tinha inveja do panelaço argentino, ou talvez daquela sede por revolução do povo “hispanolatino”. Tinha vontade de sair às ruas e gritar bem alto; chega! Mas, então, voltava, porque no Brasil não adiantava.

O brasileiro levava com a barriga, enquanto tinha feijão e arroz para comer, ia tocando. Nois vivia. Enfim, o “despertar súbito de um gigante”, como é denominado, o movimento que toma as ruas por muitos.

Ao mesmo tempo em que, me arrepio, sinto os olhos encherem de lágrimas, a voz titubear, totalmente emocionado, e levemente sentir meu rosto moldar-se para um sorriso, sensação essa sem explicação, sinto o medo. Medo esse que, provavelmente, é causado, porque - um quase desistente de lutar, falar, escrever para que acordássemos, vê repentinamente o povo que andava de cabeça baixa, e aceitava tudo, sair para reivindicar seus direitos e mostrar que ele é o verdadeiro chefe, ademais de não ter como explicar, assusta. Porém, além de assustar e ter medo, o medo, que tenho agora, é outro. Esse medo, com certeza é em decorrência de faltar algo. Faltar o que? Vocês podem se perguntar. Afirmo que é conteúdo.

Peço encarecidamente que essas manifestações não venham sem recheio, de cultura, de leituras. Que esse que manifesta saiba o porquê da manifestação. Que vá atrás de seus direitos, mas sem violência, sem prejudicar quem nela não se insere. Que esse que manifesta pense bem, pense nas eleições e vote consciente nas próximas. Que esse que manifesta não trate o político como uma verdadeira celebridade, quando este vem de “visita” a sua cidade.

Que esse que manifesta pare na faixa de segurança, pois esse é um direito do pedestre e, contudo educação. Que esse que manifesta não jogue lixo no chão. Que esse que manifesta não evolua, intelectualmente, somente nos dedos, ou na rapidez de um post. Que esse que manifesta não seja bode expiatório, tampouco eleja alguém para ser “bode expiatório político”. Que esse que manifesta, manifeste contra os corruptos, que são muitos, e não tome partido, nem se lance candidato em um próximo certame eleitoral, mostrando assim que a luta é para e pelo bem da nação e não para seu próprio. Que esse que manifesta seja, não somente agora, mas sempre um cidadão crítico (não confundindo crítico com violento).

Que esse que manifesta exija mais saúde e que não a use sem dela realmente precisar. Que esse que manifesta não seja demagogo, vaiando a presidenta Dilma sendo que pagou ingresso para estar no estádio. Que esse que manifesta saiba qual é a verdadeira função de um deputado, senador, ministro, isso se é que eles têm uma definida. Que esse que manifesta não se indigne somente por vinte centavos, mas sim pelos mais de vinte anos de atraso que estamos em relação aos outros países, inclusive nossos parceiros do BRIC. Que esse que manifesta tenha arraigado que a verdadeira mudança parte, em primeiro lugar, dele mesmo. Que esse que manifesta peça mais educação, sabendo que qualidade não é quantidade, já que temos a mania de somente aumentar números quando a educação não vai bem. Que esse que manifesta suplique a redução dos impostos, ou pelo menos a correta aplicação. Que esse que manifesta seja também o professor que já devia ter dado um basta nessa palhaçada, em que se enquadra, a tempo.

Que esse que manifesta continue, ontem, hoje e sempre. Que esse que manifesta seja realmente assim, o futuro do nosso país que aí dormirei tranquilo, pois sei que meus netos viverão em um país melhor e muito, mas muito mais justo do que eu vivo. Que esse que manifesta manifeste e coloque a mão na consciência, faça uma verdadeira mudança e que em primeiro lugar seja nele mesmo.
 
 
 

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