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SEDUZINDO PELO LITERÁRIO

  • Foto do escritor: Rodrigo Bartz
    Rodrigo Bartz
  • 4 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

RODRIGO BARTZ



Algumas reportagens são marcadas pelo literário, assim, o debate acerca de que forma o texto jornalístico impresso, repleto de recursos utilizados pela literatura, pode atuar para despertar o interesse do leitor, ganha ênfase nos dias atuais.

Essa discussão ganha força, depois da inserção da tecnologia digitalizada nas redações que tem seu Boom mundial em 1970 e dez anos mais tarde no Brasil, e também com a chegada da internet menos de duas décadas depois, criando a informação em rede. Tal “avanço” faz com que a noticia, alem de chegar e concretizar-se rapidamente, roube a cena do impresso, até então líder na forma de levar informação. Fazendo (re)pensar e (re)construir, uma técnica de praticamente 300 anos. E, ademais, conceitos, nomes e teorias da comunicação que eram e são frequentemente utilizados para “explicar” o jornalismo parecem não mais dar conta, surgindo, consequentemente, uma revolução e muitas dúvidas na maneira de se fazer jornalismo impresso.

Jamais se defendeu o uso exclusivo do jornalismo que utiliza expedientes literários, e nem que ele deva estar em todos os textos, independentemente da informação que se queira transmitir. Acredita-se, sim, que a presença do literário nas páginas dos jornais pode contribuir para seduzir o leitor e dar a ele possibilidade de perceber o fato narrado por outro ângulo, diferente do tradicional.

Os fatos, nas reportagens são enquadrados em estereótipos para não perder as características principais do jornalismo, distanciando, assim, seu leitor. Já os que bebem da literatura, por sua vez, ao se aventurar por formas que causam surpresas inesperadas de narrar, alcançam de maneira própria e individual a complexidade de uma história que está sendo contada.

Segundo Juremir Machado da Silva (2006) o distanciamento da literatura é o que torna o jornalismo cada vez menos atraente para os leitores.

Marcelo Bulhões (2007) afirma que essa técnica pode até parecer estranha para leitores de jornais do século XXI, porém vem sendo usada desde o final do século XIX e começo do XX por escritores consagrados como Eça de Queiros, por exemplo.

Na verdade, os jornais estão tentando diferentes estratégias para se reposicionar, encontrar novas justificativas para sua sobrevivência. E as reportagens que utilizam recursos literários aparecem com cada vez mais intensidade nas redações dos jornais impressos.

O jornalismo que se aproxima da literatura, carrega consigo, de fato, a potencialidade expressiva capaz de trazer uma nova percepção para a realidade cotidiana do leitor.

E em se tratando de potencialidade expressiva temos um sucesso de recepção frente ao público, que é a produção, digamos, diferente da jornalista Eliane Brum que merece nosso atento olhar. Suas reportagens trazem a temática inesperada, a narração e o envolvimento do narrador repórter na história contada.

Analisando os componentes formais e temáticos de sua produção, as reportagens da jornalista se mostram como bons exemplos da realização jornalística que utiliza recursos da literatura para alcançar a complexidade dos fatos que se narram.

Escondidas por trás da banalidade do cotidiano e daquilo que não se vê, as histórias esperam e merecem ser contadas. Utilizando os recursos literários, torna a sua narrativa, apesar de jornalística e séria, muito mais atraente. Percebe-se claramente essa técnica como, por exemplo, no texto “O exílio” da coluna A vida que ninguém vê: “Elas vivem uma ao lado da outra. Uma em cada cama. Duas ilhas que não se tocam. Há algum tempo Vany nem mesmo enxerga Celina.”, trecho em que a solidão das senhoras é comparada, analogicamente, a duas ilhas, tão próximas e ao mesmo tempo sozinhas, sem comunicação. Comum as obras literárias, tais recursos apresentam um caráter singular, diferente, ousado, fascinando, assim, muitos leitores.

O jornalismo que traz elementos comuns à literatura é potencialmente atrativo para o público leitor. Em um momento em que se discute a crise do jornalismo impresso, a produção de Eliane Brum, por exemplo, apresenta-se como uma resposta, um caminho, a ser trilhado pelo jornalismo para recuperar leitores. É importante ponderar, todavia, que ainda se tem muito a evoluir acerca dessa relação entre jornalismo e literatura e que, até o momento, não se pode afirmar que tais textos literários jornalísticos venham a ser a salvação do jornalismo impresso.

Além disso, considerando a literatura como marca de uma voz autoral, como algo que não se ensina, é de se questionar de que forma jornalistas podem desenvolvê-la.

De qualquer modo, existem muitos questionamentos e poucas respostas, mas comprova-se que o texto jornalístico literário se torna um potencial atrativo, não a salvação, mas um fortíssimo aliado para que leitores voltem às páginas impressas.

 
 
 

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