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Explicando em tchês os tchâs do mundo

  • Foto do escritor: Rodrigo Bartz
    Rodrigo Bartz
  • 4 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Rodrigo Bartz

SCHAEFER, Sergio. O gaudério Macunaíma e a pititinga macia de brunilde. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2001. 280p.

A obra O gaudério Macunaíma e a pititinga macia de brunilde, trata-se de uma maluca história, quando uma estrela se transforma em índio e herói. Ele tem como meio de locomoção uma aranha (Tatamanha), que através de sua teia, viaja para qualquer lugar do mundo, vivendo grandes aventuras e conhecendo muitas pessoas. Mas na sua primeira viagem, já como índio Macunaíma (por um erro de cálculo), pousa no Rio Grande do Sul, onde conhece Brunilde, filha de um grande empresário e plantador de fumo, que tem uma mãe que na primeira apresentação odeia Macu, mas Macu se apaixona de verdade por Brunilde e supera os obstáculos.

É com muita ironia, imaginação, brincadeira, que o professor e autor Sergio Schaefer escreve toda a obra, usando alguns personagens do romance Macunaíma de Mário de Andrade escrito em 1928.

No romance de Mário de Andrade, há uma mistura de índio, branco e negro que com a ajuda, dos dois irmãos e seus fiéis companheiros Maanape e Jinguê, vão à busca do amuleto maraquitã. Sérgio, inclusive em sua história, usa até os mesmos nomes para os irmãos de Macu como podemos observar na seguinte citação: “Queria que mano Jinguê e mano Maanape me vissem! [...]” (p.20). Também em alguns trechos o autor cita o ano de 1927 e 1928, anos de publicação das edições de Macunaíma de Mário de Andrade como no seguinte trecho: “- Eta, cunha de mata o veio!- exclamou Macu, e já começava a se babar, que o jejum vinha desde 1927[...]” (p.60), como se fosse a continuação do mesmo Macunaíma do romance de Mario de Andrade. Sérgio constrói uma intertextualidade com o romance.

A belíssima história de Macunaíma começa com o grande herói conhecendo e se apaixonando por Brunilde e ela se apaixonando por ele. Depois de noites pulando a janela do quarto de Brunilde, pois ninguém, a não ser ela, conhecia Macu, Brunilde fica grávida e acaba obrigando Macu a pedir sua mão em casamento diante de seus pais.

Macu, diante de todo aquele patrimônio, pensou em sua tranquila aposentadoria na vida mansa que poderia levar e aceitou pedir a mão de sua amada Brunilde em casamento. Nessa passagem, o autor nos dá uma lição sobre ganância, pois Brunilde pensa que Macu é dono de uma floresta de infinitas árvores: “Por força empresarial de Brunilde acerca das possibilidades exploratórias embutidas na floresta do uraricoera [...]” (p.15).

O tal pedido acontece, Macu ganha a simpatia do sogro senhor Herr Wolfgang, mas, entretanto não consegue de maneira nenhuma a simpatia da sogra Sra. Frau Roswita: “Frau Roswita supetou o busto seco para frente, estendeu as mãos, ganiçou angustiada [...]” (p.25), que também odeia seu futuro neto Poronô por ser filho de Macu que é índio. Macu, então, é apresentado a toda a cidade como um grande empresário dono de muitas árvores. E, por esse motivo, é tratado muito bem por tudo e por todos. Nesta passagem, o autor nos mostra a questão do interesse: “E lá se foram adiante na visitação. Era secretário disso e daquilo. Aqui engolir um café [...]” (p. 36). Depois das apresentações, Macu somente queria boa vida até que surge a ideia de torná-lo candidato a prefeito. A proposta é aceita por Macu e ele se vai para Brasília para se tornar o tchê político. Passagem esta em que o autor nos mostra a questão de todo o político ser mentiroso: “A promessa de aumento do preço da arroba de fumo, no entanto, essa fora uma tirada de gênio.” (p. 73).

Macu acaba perdendo as eleições no final e perdendo também a confiança do sogro. Por estar muito abatido, resolve fazer uma viagem com a ajuda de Tatamanha e vai parar em Cuba, onde conhece Caridad que é picada por uma cobra e acaba morrendo. Porém, antes de morrer, ela faz com que Macu prometa que criará um foco guerrilheiro na sua cidade, o herói promete mais acaba não cumprindo e Caridad começa a assombrá-lo. E ameaça nosso herói dizendo que o transformará em estrela novamente: “Você vai voltar para os céus donde você veio [...].” (p. 135). Macu, depois disso, forma o tal foco guerrilheiro e a primeira pessoa sequestrada é seu inimigo político, o prefeito da cidade, senhor Schwarzneger. Mas com a volta de seu sogro (que volta das férias com sua esposa), a coisa fica “preta” e Macu e os demais companheiros do foco resolvem fugir através da teia da Tatamanha: “ Então que, em tudo que é canto da floronha dóitchonha cidade, soldados mal encarados. Pontos estratégicos – vigiados.” (p.204). Então, fogem todos e chegam à floresta do uraricoera e conhecem as guerreiras amazonas icmbas. As guerrilheiras no início não foram muito amigas mais depois se acertam e vivem cordialmente: “ Tudo novamente nos eixos, os hóspedes começaram a se sentir em casa.” (p. 251). Macu sem inspiração para continuar seu foco guerrilheiro, pede para a aranha Tatamanha buscar no sul sua boina. Tata, infelizmente, não consegue chegar até o sul, pois para na poluição da cidade de São Paulo. Trecho esse em que Sérgio em tom irônico enfatiza a questão da poluição: “Tata enfiou uma pata na água e pata virou uma bolha só. Caralhos aquilo não era água não, era ácido.” (p.256).

Enfim, a obra é maravilhosa, escrita de uma maneira descontraída, quando o autor nos passa todas as suas mensagens em tom irônico, escrevendo de uma maneira diferente da usual, usando muitas gírias criando assim um neologismo extenso. Consegue transmitir, assim, várias mensagens sobre os problemas existentes no mundo de uma maneira prazerosa de se ler, que consegue prender o leitor, parece que “explica em tchês os tchâs do mundo”.

 
 
 

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