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A moda cambojana

  • Foto do escritor: Rodrigo Bartz
    Rodrigo Bartz
  • 4 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de ago. de 2020

Rodrigo Bartz



Os reality, no Brasil, tem um histórico de sucesso. É um estilo de programa tão enraizado, aqui, por exemplo, que já estamos na 15ª edição do Big Brother Brasil. Particularmente, não gosto, não assisto e não escondo de ninguém esse certo incômodo. Na minha peculiar opinião, é um programa com pouco conteúdo e com um final que já nasce pronto. Porém, note-se que é um belo e interessante escopo de estudo para a sociologia, a antropologia, assim como à psicologia. A pesquisadora argentina Leonor Arfuch referência no estudo de relatos biográficos, em investigações realizadas, acredita que o crescente número de biografias de famosos e notáveis se dá pelo interesse, do leitor, em desvendar os bastidores, as vivências, os “eus” que até então eram secretos. Partindo desse ponto de vista, acredita que deva estar ancorada nessa perspectiva o fenômeno dos reality shows.

Em terras verde-amarelo nos detemos nos programas de intrigas, que nada se diferenciam das novelas, apenas (com a doce ilusão) de que você decide quem morre no último capítulo. Fora esses, os musicais, revelando talentos Brasil a fora, já caíram no gosto popular da mesma forma.

Bem, calme, mas agora darei um salto e pousarei na Noruega. O país que ocupa parte da península escandinava é, conforme a ONU, o campeão mundial no IDH (índice de desenvolvimento humano) além de uma educação superior de qualidade, calminho, calminho para se viver, ademais de outras virtudes. Por que a Noruega? Pois é. Porque o reino da Noruega é um país tão fascinante que inclusive seus reality shows tem um teor educativo e reflexivo.

Uma série intitulada “Sweatshop”, que está disponível online, com legendas inclusive, levou blogueiros da moda ao Camboja. O país, também ironicamente chamado de Reino do Camboja, ocupa a singela 136º, no mesmo ranking em que os nórdicos são primeiríssimos. O reality fez com que esses platônicos Miss Sunshine, conhecessem a realidade dos trabalhadores que ficam até 12 horas debruçados, em uma mesma posição, produzindo os famosos sapatos e as estonteantes calças que fazem a cabeça da galera nas baladas.

Em um primeiro momento, os participantes não se deixaram levar pelo “sensacionalismo”. Acharam normal, e falaram frases do tipo: “pelo menos eles têm onde trabalhar”. Mas bastou dormir nas casas, escutar os relatos e trabalhar as 12 horas que batalham esses escravos da indústria da moda, e ganham nada mais nada menos que míseros US$ 3 por dia para mudarem de ideia. O programa sensibilizou e reverberou tanto que o parlamento norueguês passou a discutir o tema da indústria têxtil asiático no país. Além disso, os próprios blogueiros, passaram por tumultos emocionais e mudaram seus pensamentos em relação à moda, suas consequências e os diversos problemas sociais existentes por trás de um sapato de salto. Quantos cambojanos existem no Brasil? Milhares.

Assim, seguindo o belo exemplo, talvez poderíamos discutir melhor questões que são tratadas no Brasil com indiferença e preconceito. Aí, poderíamos discorrer sobre problemas como a falta de fiscalização, o descaso, a criminalidade que está ligada diretamente às desigualdades sociais.

Acredito que isso seria muito mais proveitoso que ficar torcendo por namoros fajutos, bundas e peitos siliconados, e por bandas que de uma hora para outra tornam-se o “futuro” da MPB. E a grande verdade é que, (até pode parecer uma perseguição ultrapassada, esquizofrênica), para existir ricos tem que haver pobres. E muitos estão mais interessados em uma calça, bolsa, ou cinto “da hora”, ou até mesmo nas fofocas do BBB do que a “moda cambojana”, os malditos excluídos, preguiçosos que se beneficiam de programas sociais pagos pela população, e esse papo chato desse pessoal de esquerda, ora pois.


 
 
 

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