Croniquinha da semana
- Rodrigo Bartz
- 4 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de ago. de 2020
Rodrigo Bartz

Esses dias, distraído, li o Aurélio mais uma vez. Para as novas gerações, que não sabem bem o que é isso, trata-se de um material impresso, com folhas de papel, as quais trazem em seu interior letras, formando palavras, que formam períodos, que foram parágrafos. Nesse livro, mais especificamente, há conceitos – verbetes, os quais tentam definir o que, realmente, significa uma palavra para uso geral. Hoje, é muito mais fácil, basta um clique e pronto, temos o conceito. Bem, vou voltar à temática para não perder o rumo da prosa. Queria saber, ou melhor lembrar, o significado da palavra empatia. Pois bem, esse vocábulo tem como teor se colocar no lugar do outro, no lugar de outra pessoa, sentir o que sentiria outra pessoa, caso ela estivesse na mesma situação. Enfim, em uma livre interpretação minha, é se colocar no lugar do outro, simples assim.
Essa vasculhada, no conceito dessa “belíssima” palavrinha – da moda –, fez-me lembrar de uma pesquisa, a qual li faz algum tempo, nesses sites de notícia. Era a pesquisa de uma Universidade Britânica. Nela havia a revelação de que nossos antepassados, os chimpanzés, eram mesquinhas e egoístas em relação à comida. Nesses pequenos “furtos”, nossos parentes não se importavam com as suas ações. Se os outros ficassem sem comida, pouco se importavam, desde que conseguissem encher minha pança; tá valendo. Interessante achei e – mesmo ficando nítido em várias ações humanas essa nossa herança, pensei que seria ótimo que houvesse uma situação para provarmos que ainda temos conserto, que somos sim uma “evolução” em relação a nossos irmãos.
E aí veio a pandemia. Um ano atípico e meio apocalíptico, não tanto pela pandemia, puramente porque evidenciou mais ainda a indiferença com o outro, a pouca importância que dou a meu semelhante, exatamente como primatas. Essa gripezinha, não seja, talvez, o verdadeiro problema. Ou, provavelmente, seja, uma vez que ela colocou um espelho a nossa frente e mesmo os mais otimistas começaram a se questionar: até onde vai o egoísmo humano exacerbado pelo narcisismo trincado e ebulido nas redes sociais. Alguns não usam máscaras, recusam-se, porque ainda acreditam na mamadeira de piroca.
Outros fazem festas clandestinas, simplesmente pelo prazer de um challenger de maquiagem, ou ainda pelo tédio das quatro paredes a la Sartre.
Até porque eles são jovens. Como dizia o personagem Jovem, do saudoso Chico Anísio: “Pô mãe, eu sou jovem”, o qual desafiava o sistema, mas ainda vivia sob a mãe superprotetora Lupe. Então, que se dane o resto.
E assim vamos caminhando, em direção à eternidade, ao novo mundo, ao contemporâneo. Metaforicamente, em um clássico do cinema, baseado no romance de Pierre Boulle, Planeta dos Macacos, lançado no final da década de 60, astronautas acabaram descobrindo um planeta semelhante à terra, dominado por macacos falantes que escravizavam humanos que perderam a capacidade de falar, tornaram-se mudos, quiçá pela indiferença, vai saber. Ao serem capturados, eram levados ao laboratório de estudos de cérebros humanos, os capturados que se tornavam prisioneiros, pois a psiquiatra Zira acreditava que os macacos são descendes dos homens.
É, de todo errado não estavam, principalmente na questão da empatia, pois como refletiu um dos personagens, logo no início do filme: “será que o homem, aquela maravilha do Universo, aquele maravilhoso paradoxo que me mandou para as estrelas, ainda guerreia com seu próprio irmão? Deixa as crianças de seu vizinho com fome?”. A julgar pelos últimos acontecimentos, acredito que sim, infelizmente sim.
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